quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

IMPORTANTE

Vou começar por colocar um post que o Phil Galfond fez no seu blog, jogador este que considero o melhor jogador do mundo.

"A minha vida deveria ser espectacular. Tenho a liberdade de trabalhar quando quero, e o meu trabalho é jogar um jogo que amo. Tenho grandes amigos, saúde, e uma família fantástica. Então porque é que não me sinto bem de momento?

Obviamente por falta de equilíbrio. Preciso dos meus amigos e da minha vida real, para me relembrar que existe um Phil normal. Preciso de me recordar que há mais na vida que apenas saber quanto dinheiro ganhei ou perdi hoje, ou saber que confiança tenho na minha vida, ou quanto EV estou a perder por não jogar esta noite. Preciso de recordar que é apenas um jogo.

Quando o Waluigi (personagem do jogo Super Mario Kart) ganha uma corrida no Mario Kart, ele sente-se óptimo. Quando perde, fica miserável. È tudo o que ele tem. Quando desligas a tua Wii e vais jantar, ele continua ali a correr.

Nos últimos oito meses, tenho estado preso dentro do jogo. Quando perco, dói muito, porque agora é tudo o que tenho. Às vezes ganho, às vezes perco, mas tem de ser ou um ou outro. Não há outras alternativas no meu dia a dia. Ou estou a jogar poker, ou a fazer coisas para depois poder jogar poker. "Preciso de ir comprar alguma coisa para almoçar e jantar para jogar o dia todo. Preciso de adormecer para acordar a horas de jogar amanhã. Preciso de ir dar uma volta, para espairecer a cabeça e depois jogar bem".

O que preciso mesmo de fazer é deixar o jogo e regressar à minha vida real, mas já não tenho vida real para regressar.

Nos últimos meses, entrei mesmo em tilt até ao ponto de jogar claramente pior num par de ocasiões. Isso é algo que nunca me tinha acontecido nos meus primeiros sete anos como jogador de poker. Esse deveria ter sido o meu primeiro sinal claro que algo estava mal.

Ao menos agora sei qual é o problema. Esse é o primeiro passo, certo? A seguir, tenho de descobrir o que vou fazer para o resolver. É mais fácil dizer do que fazer.

O meu plano actual: publicar este post. Dormir. Pensar mais tarde.

Obrigado por lerem pessoal. Desculpem-me se acham isto ridículo. No mínimo, espero que entendam isto como um aviso de não caírem na armadilha que eu consegui evitar nos sete anos anteriores, até agora. O equilíbrio é importante, e acredito que nada é mais importante na nossa vida que o relacionamento com outras pessoas, e a tua felicidade no dia a dia. Vou ainda mais longe e digo que também é uma das coisas mais importantes no teu jogo.

Cuidem-se e boa sorte"


Este post é muito bom e dá para todos reflectirmos um pouco. O poker tem de ser jogado como um jogo, que depois de ser desligado acaba e não fica a mexer connosco. Isso é muito difícil de se fazer, mas é o que é correcto ser feito. As pessoas que jogam poker como eu jogo, profissionalmente e no qual os seus rendimentos são os rendimentos mensais, os quais vão usar para pagar as suas despesas, têm de se mentalizar que como em qualquer trabalho, o 1º passo para ficarem menos sãs é "levar o poker para casa". E foi esse um dos ajustes que fiz na minha vida.

É importantíssimo ter outras coisas na vida para além de saber se hoje se ganhou ou se perdeu dinheiro, e saber se joguei ou não determinada mão bem. Ainda bem que tenho essa possibilidade por causa dos meus amigos e agradeço-lhe imenso por isso. Felizmente consigo fazer mais coisas na minha vida e no meu dia-a-dia que não seja apenas jogar poker ou coisas relacionadas com poker. Felizmente um jantar de amigos não é um "jantar rápido para depois ir jogar poker". Parece uma coisa banal mas com muitas pessoas isto não acontece e em tempos não aconteceu comigo.

O facto de entrarmos em tilt pode querer dizer duas coisas. A primeira tem a ver com alguma falta de experiência e falta de controlo. A segunda tem a ver com o facto de a nossa vida emocional não estar bem e tudo o que nos corre mal afecta-nos de determinada maneira que as nossas decisões começam a ser afectadas por um simples contratempo. Esse é o primeiro passo para o insucesso.

Antigamente eu jogava poker 18h por dia, não tinha controlo emocional e era perdedor. Hoje, jogo poker menos horas mas continuam a ser bastantes, o que é normal primeiramente porque o poker é o meu trabalho e segundo porque eu AMO o jogo, mas jogo mais conscientemente. Jogo poker quando as minhas capacidades intelectuais estão no máximo, não quando estou cansado apenas para "matar o vício", e é daí que surgem os bons resultados que tenho tido.

Afinal, no poker o controlo emocional e depois, consequentemente, a gestão de banca (facto que também melhorei imenso) são TUDO. E agradeço-me a mim mesmo por ter crescido emocionalmente e ganho experiência para hoje ter nesses dois pontos um orgulho imenso.

Obrigado Phil Galfond por me teres feito reflectir de tal forma. Vivam o poker como ele deve ser vivido e aprendam com os vossos erros. Todos erramos, eu já errei a um tal ponto de ser completamente "viciado" no poker. Um vício irracional que melhorei, e que hoje transformei em trabalho e paixão.

Eu tenho uma vida quase perfeita, e é verdade que não posso pedir praticamente mais nada. Tenho grandes amigos e prefiro ter poucos e bons do que muitos e maus. O meu trabalho consiste em fazer o que gosto e trabalho quando EU quero. A minha família é excelente. Que posso eu pedir mais?

Abraços a todos.

1 comentário:

  1. Ainda não me parece que estejas a gerir correctamente a "coisa", mas sempre tive a certeza que ias lá chegar.
    És inteligente e consegues usar algo de que gostas muito, para te satisfazer e trazer rendimento. Mas não deves "levar o trabalho/poker para casa".
    Saber gerir o tempo.
    Tempo para o descanso, para a vida, para os amigos, para a família e para o trabalho/poker.
    E se possivel, arranjar bagagem cultural/académica, para se um dia apetecer mudar de trabalho, o puderes fazer sem problemas.
    Nada dificil de esperar do meu Lindão.
    O tal por quem me apaixonei logo que fiquei a saber que estava grávida e que vou amar até o ultimo suspiro da minha vida.
    Bjs, Fuga

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